
O artigo “Seguros, riscos e o desafio de proteger um mundo em crise”, resultado do Fórum de Seguros França-Brasil, oferece uma leitura essencial e profundamente alinhada com as transformações que o mercado segurador global, e em especial o brasileiro, está vivenciando. A abordagem dos especialistas da Guy Carpenter, SCOR, PRI e OCDE não apenas valida a crescente preocupação com os riscos climáticos, mas também aponta caminhos e desafios cruciais para a resiliência de sociedades e economias.
É inegável que a conta da crise climática está cada vez mais pesada, impactando diretamente o custo das perdas seguradas. A constatação de Michèle Lacroix (SCOR) de que as perdas anuais se aproximam e frequentemente superam US$ 100 bilhões anuais, valor que “se tornará o novo normal”, é um alerta contundente. Mais do que isso, a análise multifatorial que ela apresenta – mudanças climáticas, inflação patrimonial e concentração populacional em áreas de risco – demonstra a complexidade da equação e a necessidade de uma visão holística. A atenção aos riscos secundários, como incêndios florestais e tempestades convectivas, que hoje respondem por grande parte das perdas seguradas, reforça que os modelos tradicionais de resseguro precisam, sim, de uma revisão urgente. A tríade prevenção, adaptação e mitigação surge como o tripé fundamental para a resposta do setor.
No contexto brasileiro, a fala de Pedro Farme d’Amoed (Guy Carpenter) sobre a lacuna de proteção é particularmente relevante e, diria, alarmante. A baixa percepção de risco em um país que, infelizmente, coleciona desastres naturais com perdas econômicas bilionárias (R$ 40 bilhões a R$ 50 bilhões anuais, segundo o Atlas de Desastres Naturais) é uma fragilidade que não podemos mais ignorar. O exemplo do Rio Grande do Sul, com uma lacuna de proteção de 95%, é um marco doloroso que evidencia a urgência de agir. A evolução na modelagem preditiva para inundações no Brasil é um avanço notável, mas, como bem pontuado, as parcerias público-privadas são mandatórias para que o governo atue como “patrocinador da diversificação de riscos”.
A perspectiva de Rebecca Chapman (PRI) sobre o investimento responsável traz à tona o papel crucial dos investidores institucionais. A tese de que o risco climático é sistêmico e não diversificável ressalta a magnitude do desafio e a necessidade de ações coordenadas e políticas públicas ambiciosas. Sua menção aos mais de 5.000 signatários dos Princípios para o Investimento Responsável (PRI) no mundo, e o engajamento político estruturado, mostram que o capital global está se movendo, e o Brasil, com seus 130 signatários, tem um papel estratégico nesse cenário.
Finalmente, Timothy Bishop (OCDE) reforça a importância vital da cooperação internacional e das PPPs para a construção da resiliência financeira. A preocupação com a acessibilidade e disponibilidade de seguros, mesmo em países desenvolvidos, é um sinal de alerta global. A OCDE, ao atuar como plataforma de diálogo entre governos e setores, e a menção ao uso de fundos de perdas e danos nas COPs, indicam caminhos pragmáticos para enfrentar a complexidade do cenário. Exemplos como o da Espanha e do Flood Re no Reino Unido ilustram como soluções politicamente desafiadoras podem se tornar ferramentas essenciais para ampliar a cobertura e fortalecer a capacidade de enfrentamento.
Em suma, o Fórum França-Brasil de Seguros, conforme detalhado no artigo, não é apenas um evento, mas um catalisador para a internacionalização e a modernização do mercado segurador brasileiro. As discussões apresentadas sublinham que não basta reagir aos desastres; é imperativo antecipar, modelar e proteger, transformando o risco crescente em uma oportunidade para a construção de um futuro mais resiliente. A nossa indústria, de fato, está no centro da resposta a essa crise global.
Fonte: CNSeh